A programação do Camaforró 2025, divulgada pela Prefeitura de Camaçari, trouxe empolgação com grandes nomes da música nacional, mas também acendeu o alerta entre os apaixonados pelo São João tradicional: apenas 35% das atrações anunciadas são representantes do forró — estilo que dá nome e identidade à festa.
Dos 26 nomes divulgados oficialmente, apenas nove têm ligação direta com o forró, seja na vertente tradicional, pé de serra ou eletrônico: Tarcísio do Acordeon, Adelmário Coelho, Mestrinho, Estakazero, Elvis Salgado, Nadja Meireles, Cavaleiros do Forró, Flávio José, Solange Almeida, Edy Xote e Simpa. O restante das atrações contempla artistas de piseiro, arrocha, axé, pagode e pop — estilos populares, mas distantes das raízes juninas.

Moradores da cidade têm opiniões divididas sobre a mudança de perfil da festa. Para a comerciante Dona Raimunda Souza, de 64 anos, moradora do bairro Phoc II, o forró está perdendo espaço:
“A gente esperava dançar aquele forrozinho gostoso, com zabumba e sanfona. O São João de Camaçari sempre teve isso. Agora parece mais micareta. Tá bonito, mas não é mais a mesma festa.”
Por outro lado, o jovem estudante Lucas Barbosa, de 22 anos, acredita que a mistura de ritmos é positiva:
“Eu gosto de forró, mas também curto Bell Marques e Manu Bahtidão. Acho bom agradar todos os públicos. Não dá pra viver só do passado.”
Especialistas em cultura popular alertam para o risco da descaracterização dos festejos juninos. O nome “Camaforró” carrega a tradição do forró, mas na prática, a grade de atrações tem se distanciado cada vez mais da essência nordestina.
A presença de ícones como Flávio José, Adelmário Coelho e Mestrinho ainda resiste como guardiões do autêntico forró, mas a maioria das atrações segue uma linha mais pop e comercial. Resta saber se, no meio de luzes e grandes estruturas, o xote, o baião e o arrasta-pé ainda terão vez — ou se serão apenas uma lembrança nostálgica nas festas de São João do futuro.