Jornalista paulista Marcel Naves retrata o mais polêmico integrante da Escuderia, que foi detido na Bahia, após fuga cinematográfica a nado do presídio de Ilha Grande, de segurança máxima, no Rio
O livro Escuderia Mariscot – O nome do Esquadrão da Morte marca a estreia do jornalista Marcel Naves na literatura. A partir da sua vivência, ainda criança, nas redações de São Paulo, nos anos 1970, passa a conhecer de maneira muito peculiar um período importante da história do crime organizado, no Brasil, e detalhes de um dos seus principais personagens, descortinando os bastidores de um mundo violento: Mariel Mariscot.
A obra surpreende! Não se trata de uma pesquisa acadêmica ou tampouco uma biografia, mas o relato particular do autor diante do surgimento da Scuderie Le Cocq e dos últimos anos de vida de um dos seus mais polêmicos integrantes, Mariel Mariscot. Para contar essa história, Marcel se debruçou em arquivos e processos, além de entrevistas, e o resultado é um texto envolvente, com nuances ficcionais, mas muito realista.
A Scuderie Le Cocq, criada na década de 1960 por policiais do Rio de Janeiro, foi um dos grupos mais temidos do Brasil por muito tempo, até ser extinto judicialmente no início dos anos 2000. O policial bandido Mariel Mariscot fez história como personagem sempre presente nas coberturas policiais da época.
O grupo ganhou destaque na mídia a partir de assassinatos, cujos corpos eram abandonados tendo ao lado o famigerado cartaz de um crânio cruzado por duas tíbias e logo abaixo, em destaque, as letras E.M. (Esquadrão da Morte), sua assinatura inconfundível. As redações recebiam telefonemas anônimos informando sobre os crimes cometidos e a localização dos cadáveres, os ‘presuntos’. O alvo era a publicidade e, claro, mandar um recado.
Mariel Mariscot, conhecido por ser um dos 12 homens de ouro da Guanabara, teve participação ativa na Scuderie, na qual fez história até ser expulso por sua atuação excessivamente violenta. Entre seus feitos, amplamente destacados nos jornais, estão uma fuga a nado do Presídio de Ilha Grande e sua eterna desavença com o famoso bandido Lúcio Flávio, eternizado na obra do cineasta Hector Babenco, Lúcio Flávio – O Passageiro da Agonia. E, ainda, o comentário do jornalista Percival de Souza sobre o Esquadrão e o trabalho de Marcel Naves, além de 4 fotos de Mariel Mariscot do jornal O Globo.
Como classificar Mariel: policial bandido ou um bandido policial? É essa pergunta que o livro tenta responder, neste trabalho de fôlego do experiente jornalista Marcel Naves.
Conheça, no trecho abaixo, um pouco da passagem de Mariel Mariscot e sua prisão, na Bahia.
A prisão de Mariel Mariscot no interior da Bahia
“Às 13h de uma sexta-feira, 9 de março de 1973, a cerca de 20 quilômetros de Vitória da Conquista, no interior baiano, Mariel finalmente foi detido durante uma ação que contou apenas com 8 policiais militares sob o comando do coronel Carlos Sinfrônio de Almeida.
“A polícia da capital baiana manteve todas as informações sob o mais criterioso sigilo. O 9º batalhão da Polícia Militar da Bahia foi acionado e mobilizou seus homens para que localizassem e prendessem os ocupantes do Volks branco, chapas DI 1162, proveniente do Rio de Janeiro.
“Entre as revelações, Mariel disse que chegou à Bahia com o carro do irmão, mas, antes de alcançar Salvador, relatou que se hospedou algumas vezes em um camping e, em outras ocasiões, em um hotel de Itaparica. Uma vez na capital baiana, retomou a vida normalmente com direito a encontro com amigos e até comemorações de carnaval no tradicional Tênis Clube Bahiano.
“Na terra de Todos os Santos, sentiu-se tão à vontade que promoveu um jantar com a presença de jogadores, na casa de um parente, abriu uma conta no Banco do Brasil, na Baixa do Sapateiro, na qual recebia dinheiro do Rio.
“Tudo estava dando tão certo, não fosse o fato de estar usando documentos falsos em nome do argentino Roberto Ramirez, que até teria se casado na Igreja do Bonfim, onde um advogado, amigo da família, chegou a ser contratado para cuidar da parte civil da cerimônia”.
Quem é o autor – Marcel Naves atuou nas rádios Bandeirantes, CBN, Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), Eldorado e Estadão. Os prêmios Vladimir Herzog, Ayrton Senna de jornalismo e o reconhecimento da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), como melhor repórter, estão entre algumas das muitas conquistas obtidas em sua trajetória.
LANÇAMENTO
8/12 DOMINGO, DAS 12H ÀS 16H,
Local: Café Girondino – Rua Boa Vista, 365 – Centro Histórico de São Paulo, ao lado do metrô São Bento; Sobre o livro – Escuderia Mariscot – o nome do Esquadrão da Morte. Gênero: literatura brasileira. Subgênero: biografia, jornalismo. Palavras-chave: crime organizado; investigação criminal; reportagem investigativa, crimes reais; biografia, história. 14×21 cm. 212 p., ISBN 978-65-981557-1-1. São Paulo: Trajetórias. R$ 60,00.