O jogo entre São Paulo e Talleres, pela fase de grupos da Copa Libertadores, que terminou com a classificação do Tricolor Paulista, foi marcado por um episódio lamentável de xenofobia.
O lateral-esquerdo venezuelano Miguel Navarro, do clube argentino, acusou o meio-campista paraguaio Damián Bobadilla, do São Paulo, de ofensas xenofóbicas durante a partida realizada no estádio Morumbis, na noite da última terça-feira, 27.
Segundo Navarro, aos 41 minutos do segundo tempo, Bobadilla o chamou de “venezuelano morto de fome”, o que gerou forte comoção dentro e fora de campo.
A confusão começou após um desentendimento entre os jogadores. Navarro foi visto muito emocionado no gramado, chorando copiosamente e sendo amparado por colegas do Talleres e até por alguns jogadores do São Paulo, como Nahuel Ferraresi e Arboleda.
“Não quero falar disso. Não quero falar de nada, quero ir para casa. Sim, Bobadilla. Ele sabe o que disse. Me ofendeu”, disse Navarro em entrevista a ESPN Brasil.
A situação foi levada à Polícia Militar, que tem um posto dentro do estádio durante as partidas. Cerca de 20 minutos após o apito final, Navarro prestou o primeiro depoimento no local e, em seguida, foi encaminhado ao Jecrim (Juizado Especial Criminal), onde formalizou a denúncia. Durante o segundo depoimento, voltou a chorar.
Pouco depois, Navarro usou seu perfil no Instagram para reafirmar a acusação e desabafar sobre o ocorrido:
“Gostaria de ter a solução para a fome no meu país em minhas mãos. Espero que Deus me dê muitas coisas para ajudar. Não creio que haja muito que se possa fazer em relação à pobreza mental”, disse.
“Nunca terei vergonha das minhas raízes, irei até as últimas instâncias diante do ato de xenofobia que vivi hoje no Brasil pelas mãos de Damián Bobadilla. No futebol não há espaço para discursos de ódio”, complementou.
PM de São Paulo interviu após denuncia de Navarro
Após o depoimento de Navarro, a Polícia Militar dirigiu-se ao vestiário do São Paulo para ouvir o volante Bobadilla. No entanto, foi informada pela segurança do clube de que o jogador paraguaio já havia deixado o estádio, aproveitando a folga concedida pelo clube no dia seguinte.
Mesmo assim, a PM entrou no vestiário para averiguar e confirmou a ausência de Bobadilla. O São Paulo, até o momento, não se pronunciou oficialmente, mas informou em nota que “não vai se posicionar até que o caso seja devidamente apurado”.
Com base na denúncia formal, Bobadilla deve ser chamado para prestar depoimento. A data ainda não foi divulgada. A Conmebol também não se pronunciou até o momento. Mariano Levisman, técnico do Talleres, comentou o caso com indignação durante a coletiva após a partida.
“Há muita ênfase nesta competição em conscientizar sobre a discriminação, e tivemos um jogador que foi discriminado hoje. Navarro e eu ouvimos comentários ofensivos sobre nossa origem. Acreditamos que isso não pode ser ignorado.”
No lado do São Paulo, o técnico Luis Zubeldía se irritou ao ser questionado sobre o episódio e preferiu não comentar, dizendo que o foco deveria estar na classificação da equipe.